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Conheça a comunidade:Professor Marinho: dedicação, livros e leituras

Faltando uma década para terminar o século XIX, aos sete anos de idade, ele estava com a cara enfiada nos livros na biblioteca do Visconde, que ficava em seu sítio, onde passava horas folhando livros e revistas ilustradas e aventurando-se nos clássicos da literatura. Foi assim que José Bento Renato Monteiro Lobato começou sua vida de leitor e mais tarde viria a se tornar um dos maiores escritores brasileiros e influenciaria várias gerações.  Muitas décadas depois, em 1970, o menino José Marinho do Nascimento, também com sete anos, recém-chegado com sua família do Paraná, se instala no ABC e ganha um título de sócio da Biblioteca Monteiro Lobato, em Mauá. Nela, conhece toda obra do escritor que leva o nome do local e ingressa no caminho das Letras para, em 1983, se tornar professor da Fundação.
As coincidências entre o professor José Marinho com o escritor Monteiro Lobato não param por aí. Aos oito anos de idade entra na escola, no bairro chamado Parque das Américas, ainda em Mauá. Na mesma cidade, Marinho ingressa na E.E Therezinha Sartori, que é mais conhecida como “Viscondão”, em alusão ao personagem Visconde de Sabugosa, um dos mais conhecidos do autor do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Nesta escola, ele conclui o ensino médio.  Entre Marinho e Lobato há uma coisa em comum: a leitura. Ambos foram influenciados por ela e suas vidas foram direcionadas para a Educação.
O local da entrevista com o professor Marinho não poderia ser outro: uma biblioteca. Dessa vez, na Biblioteca Comunitária da Fundação Santo André Jacob Daghlian. Enquanto aguardava a entrevista, lia “Entender el mundo de hoy” (Entender o mundo de hoje) de Ricardo Yepes Stork, que trata do papel do homem na modernidade. A primeira pergunta foi sobre poesia. “Não sei se me apaixonei pela poesia. Acho que me apaixonei pela literatura de ficção. A poesia veio a partir do amor pelo mundo ficcional, o mundo subvertido, reinventado”, revelou.
Marinho ingressou na escola aos oito anos e começou a trabalhar cedo, atuando como guarda mirim pela prefeitura de Mauá. Nessa época, o irmão de um dos diretores da secretaria municipal deu-lhe, como presente de aniversário, um título de sócio da biblioteca Monteiro Lobato. “Foi um prazer conhecer as obras de Lobato, depois Júlio Verne, entre tantos outros. Sou um leitor convicto desde os nove, dez anos, quando fui retirando os livros e passando a ler todos os gêneros”, disse.
Quando tinha 14 anos, Marinho lia muitos livros de bolso, de faroeste, entre outros. “Eram gibis e livros apropriados para a gente ler no trem, de pé mesmo. Nunca tive tempo ‘de sobra’ para leitura, pois trabalho desde os 14 anos. Nunca fiquei um mês desempregado. Entrei em uma empresa que fazia tipos para gráfica. Ela ficava no Bom Retiro, em São Paulo. Trabalhava de dia e estudava à noite. Como a empresa era  alemã, pedi uma bolsa para fazer um curso de alemão e eles me deram. Fiz aos domingos, pois aos sábados eu estudava datilografia. Isso mesmo: datilografia. Era tão importante quanto o inglês fluente hoje em dia”, relembrou.
No 2º. ano do Colegial, hoje Ensino Médio, Marinho já tinha prestado vestibular para Letras. Passou, mas, é claro, não pôde fazer o curso. Ao final do 3º., prestou para Letras na Fundação Santo André e na USP. “Passei na primeira fase da USP e zerei em química na segunda. Aqueles compostos de bomba! (risos). Como também passei na Fundação, acabei fazendo minha matrícula aqui. No 2º. ano do curso, já era monitor de Teoria da Literatura; depois, fui monitor de Literatura Brasileira no terceiro e quarto anos.”
O colégio Viscondão teve grande influência para o caminho das Letras de Marinho. “Fiz parte de uma turma ativa, que participava de tudo o que a escola organizava. Por exemplo: nos anos 80, havia um programa na TV Cultura, chamado ‘É proibido colar’ (http://www.youtube.com/watch?v=pOcQ4bxC9cg&feature=related), apresentado por Antonio Fagundes e Clarisse Abujamra. Em outubro, tínhamos homenageado os professores com uma apresentação teatral. A escola foi inscrita e havia uma disputa entre três colégios. Um dos quadros era justamente o de uma apresentação teatral e, então, aquela apresentação que fizemos aos professores da nossa escola acabou concorrendo. Dentre outras figuras importantes, quem julgou foi Gianfrancesco Guarnieri (1936–2006),  um dos atores mais importantes do Brasil . A escola ganhou a gincana e fomos ao final do ano e vencemos novamente.”
Poesia - Em 1984, aconteceu um concurso de Poesia na Fundação e Marinho tirou o 1º lugar. “Não tinha uma cópia, pois ficou perdida até este ano, quando a reencontrei: uma amiga guardou uma edição do jornal da época. “O nome do poema era "Eu quero um avô”. Este poema, agora com o fôlego de alguém mais maduro, pode ser lido em http://www.recantodasletras.com.br/poesiasrecordativas/3047894
Entre tantos livros que já leu, Marinho destaca alguns essenciais: A hora da estrela de Clarisse Lispector; O evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, e todos os de poesia de Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e Drummond. Atualmente, "tenho (re)lido muita poesia de Adélia Prado”, ressaltou.
A liberdade de escolha de leitura é essencial para os estudantes, de acordo com Marinho. E sobre a onda de leitura dos livros de Harry Porter, ou os livros de ficção que tratam de vampiros como a saga Crepúsculo, o professor informa que a indústria editorial reflete os anseios da sociedade, ou seja, aquilo que ela deseja consumir. “Não sou preconceituoso. Acho importante que o leitor tenha liberdade de escolha. Se for para um dia poder gostar a grande literatura, que se comece com livros de faroeste, ou com qualquer outro gênero”.
Segundo Marinho, os leitores devem ter seus direitos garantidos. (O professor faz referência ao escritor francês Daniel Pennac que, em seu livro “Como um romance”, apresenta os 10 direitos dos leitores. Confira hein: http://sebosabordasletras.blogspot.com/2008/12/os-10-mandamentos-do-leitor-segundo.html). Segundo o professor, às vezes queremos medir os gostos das pessoas. “O papel do professor é trabalhar as variedades, dar ao aluno a oportunidade de escolha”, orientou.
Para  aumentar o interesse dos alunos pela leitura, o professor tem que levar para sala aquilo que é do interesse do estudante, não pode impor os livros de que gosta ou somente os cânones. “O aluno também tem seu gosto pessoal e é preciso negociar as possibilidades, um mês o livro dos alunos, o outro do professor, e assim vai”.
Depois que terminou a graduação, Marinho começou lecionar de imediato. Em 1989,   especializou-se em  Teoria da Literatura e Literatura Comparada. “Na época, a expressão 'Literatura Comparada' era uma febre, assim 'Análise do Discurso' é hoje. Todo mundo andava "comparando" tudo" (risos).
Após a especialização, cursou o mestrado, mas isto foi em 2002. “Trabalhei com Murilo Mendes no Mestrado, que fiz no Mackenzie, orientado pelo professor José João Cury. Nas discussões passamos pelo Oswald de Andrade, Orides Fontella, Renata Pallotini, Ana Cristina Cezar, até chegar ao Murilo Mendes. Mas acho que foi o Murilo que me escolheu. Eu apenas disse sim”. No dia da defesa, recebi o convite para me inscrever no doutorado da USP. Devia seguir com o Murilo. Agora em francês. Fiz a inscrição, as provas e meu projeto foi escolhido.  O professor lembra que a dissertação de mestrado foi transformada em livro. Chama-se Murilo Mendes e a imagem poética do assombro: análise de poemas. Foi publicado
Recentemente, Marinho iniciou uma outra especialização na área da Educação. O curso chama-se 'Ciências Humanas: habilidades e competências', ministrado pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais. “A minha opção foi por ampliar, foi por um alargamento de minha visão de mundo. Trata-se de um curso de dois anos. Em cada semestre, eu me dedico a estudar uma época (Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea). Estudo literatura, música, balé, teatro etc. Tenho aula com juiz de direito, bailarina, filósofo, historiador, geógrafo, entre outros profissionais. Construo um mosaico de visões sobre as épocas”.
Assim como os livros e com o trabalho de professor, o cinema é outra linguagem que o encanta. Algumas películas são inesquecíveis, tais como As invasões barbaras, de Denys Arcand, de 2003; O Mensageiro, de Kevin Costner, de 1999; Os 10 Mandamentos, de Cecil DeMille, de 1956, a que assistiu mais de quatro vezes; Para Wong Foo, Obrigada por Tudo, com Wesley Snipes e Patrick Swayze, de 1995; Apocalipto, de Mel Gibson, de 2006, entre outros. “Este último é poético, é sensível, é histórico. Ele proporciona reflexões profundas sobre as crenças, sobre os homens e sua forma de explicar o mundo”, finaliza.

Livros indicados (além dos citados):
Sombras de reis barbudos, de José J. Veiga.
Invenção e memória, de Ligia Fagundes Telles
Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa
São Bernardo e Angústia, de Graciliano Ramos
Bagagem, de Adélia Prado
Gula, Luiz Fernando Veríssimo
Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
80 anos de poesia, de Mário Quintana
La divina increnca, de Juó Bananére


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